quarta-feira, 4 de março de 2009

Um amor para recordar - Parte II

Ao redor um som que eu podia jurar que falava sobre um tal de Von de Waals. Foi quando nossos olhares se cruzaram, na sutileza da música e euforia da aula. O silêncio nos venceu e envolveu em uma fixação infinita. Mas é evidente que não foi preciso palavras para aquele diálogo ser compreendido. Em três segundos, ou mais, eu pude entender o que aqueles olhos, quase lacrimejados, estavam prestes a me dizer e creio que me fiz entendido quando tentei, em olhos envergonhados e desconcertados, demonstrar o que estava sentindo. Durante aquele tempo, curtíssimo e raro, eu pude perceber que algo se perdeu no passado, mas o essencial continua, está ali dentro, escondido, reprimido. Mas eu sei que existe. Talvez aquele jeito forte e controlado, frio às vezes e resistente sempre, seja apenas uma barreira que ela própria traçou para não se machucar. Não sei se o problema está nas pessoas ou em mim, mas acabo provocando uma reação de cautela e receio em todas as que de mim se aproximam. Queria aproveitar o momento para pedir desculpas a essa mulher, escondida atrás de um rosto de menina, e dizer que em momento algum eu tive a intenção de magoá-la. Por mais que eu tente, creio ser impossível traduzir em palavras tudo o que sinto por você. Não são palavras em vão, estas minhas. Não são apenas para mascarar um erro ou algo assim. Não. Há quatro anos eu jurei amor eterno a ela e talvez tenha falhado por um simples acaso do destino. Mas hoje, por um breve instante, senti o que eu só havia sentido há muito tempo. Senti que ela ainda me ama, talvez até mais do que eu podia imaginar. Olhos de ressaca, perdidos em determinado instante do tempo, compreendidos, talvez, apenas por ela. Te amo, minha bidel!
"Ela tinha olhos de cigana, oblíqua e dissimulada. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada eu sabia."

(Machado de Assis)